Moeda
Chata moeda chata de lata sobre a chapa da fria mesa;
Face de duas faces fracas que no plano chato, vazia se revela;
Moeda desenhada chata no plano do papel chapada não incha, murcha;
Como a moeda real e chata sobre a chapa chata da mesa presa
Contrario à natureza
Da compreensão a avareza e repulsa à beleza
Triste franqueza chata da moeda de prata fechada e ensimesmada
Porque obrigada pela expectativa queda-se na perspectiva única de que cego a vê
E subestima a face oculta, e valoriza a face revelada.
Olho cego que enxerga só haver uma face
Entre tantas outras secretas entristece a moeda que, sem querer se mexer, fica chata;
Face oculta com outra revelada da moeda chata na chapa fria da mesa chapada
Moeda furta-cor, moeda falso hipócrita.
Que sobre a mesa repousa sendo isso ou aquilo mesmo que por natureza seja o dois, ou nenhum dos dois; mas três, dez, mil...
Pois em tendo duas faces chatas,só pode ser chata, e desinteressante,
Mais eis que tem duas faces de mostra logo não é a coroa chata monosonante
Ou a cara monocromada e plana, como Deus pretende e a sociedade quer.
Se elíptica, ou gorda a moeda poderia arrastar interesses como uma mulher,
Mas deixai-a chata e adormecida como Deus pretende e a sociedade quer
Sobre seu eixo, gira e paira a moeda rotunda suspensa
Multifacetada moeda gorda uma esfera torna;
Não é quente e nem fria, é moeda-água morna
Rica, falsa, biloca com um milhão de rostos
Que agrada, portanto, a todo mundo os gostos
Incluindo o seu próprio.
Faces inchadas fortes que não se escondem nem se anulam mas se somam
E a Deus e à sociedade contraria, oh não deveria!
Mas se a moeda não for chata, ela não é ou um ou outro, mas passa a ser um e outro
E ai ela pode demais, quer subir ao Olimpo a roubar a chama sagrada
Porque a moeda gorda rola pelo plano chato, rola solta pelo lambriz, tal qual uma laranja
E já não se pode acompanhá-la a trajetória incerta
Que com a sua própria natureza flerta.
Agora, rica, a moeda livre é falsamente acusada
Uma falsa traidora sim,
Porém feliz e multifacetada.