ORPHANÓS

ORFHANÓS

Nau Argo

ideando Velocino d’Oiro...

Nove cordas,

ondas infinitas,

nove Musas,

lira e cítara.

E o canto do aedo põe

em fuga Sereias, demônios marinhos!

Conclamada Doris,

mãe das Nereidas,

as belas do fundo Oceano,

em tronos d’oiro,

as belas ondulam melenas,

mar em cio, não-bravio...

Colhe, canta, virgem, as rosas,

veris Ártemis!

Nobilita os Nautas da Argo,

a Orfeu e à dríade Eurídice,

coroada de lunas prateadas.

Teseu,

ó Heracles d’Ática!

Ariadne ruma à Grécia,

atiça a cólera dos deuses.

Naxos,

val de dores

da princesa em desamores,

preamar só em sonhos,

aos espinhos da Ilha do Dia

junto à Belatriz vergel.

Mar e terra, lua e sol no céu,

mar indócil, fluxo e refluxo,

convulso.

Ares sanguinolento

mar-e-guerra,

maré-cheia, alta...

Ah, Orfeu! Tua Eurídice e

Aristeu cruento.

Tange a lira, Orfeu!

O canto é triste,

é orféico,

é morta a Belamudamada,

émudomundo.

Léthe... e o véu das trevas

cobre a vala da encantada.

O enredo...

Eu, teu fiel, Orfeu? Só, em leito,

orphanós...

Canto a sós comigo,

canto órfico...

Orfeu mutilado,

plange triste um veloz sino...

Eus deLírios pranteando

dolorosas gotas d’águas em

Íris,

e um arco-íris

recobre

um Val de Floris,

Vallis de Poíesis.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, verão de 2006.