QUANDO CANTAS

Quando cantas, mulher, doutos segredos,

Eu ouço em meios as notas da canção:

Um frio corre em meu corpo e, tenho medo

De deparar de novo com a paixão.

Eu tenho medo.

Estou sentindo um doce sentimento:

Uma cócega de dor no coração,

Qual os olhos que se vão, nos olhos vendo

Do olhar que ele deixou lá na estação.

E vai sofrendo.

Estou como um tonel que o vinho acaba,

De vinho há um cheiro no interior;

Dentro de mim eu sei que não há nada,

Mas o vestígio há de um grande amor.

Lembro-me da amada.

Estou qual a velha casa no abandono,

Ali se alojam cobras e escorpiões;

Nosso peito, também, se está sem dono,

Dá vez para essa vaga solidão.

Que mora em ermas vidas.

Um peito sem amor é uma feriada,

Um fôlego abafado na garganta.

É a dor que se deseja mais doída.

E tudo dói em mim enquanto cantas.

Nessas horas idas.

Na panorâmica visão, foco o recinto

Como uma ave na prisão vendo lá fora,

E funde o amor em mim na dor que eu sinto,

E me agarro à solidão e, vou-me embora;

Com a dor, não minto.

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 15/12/2006
Reeditado em 28/08/2007
Código do texto: T318506