QUANDO CANTAS
Quando cantas, mulher, doutos segredos,
Eu ouço em meios as notas da canção:
Um frio corre em meu corpo e, tenho medo
De deparar de novo com a paixão.
Eu tenho medo.
Estou sentindo um doce sentimento:
Uma cócega de dor no coração,
Qual os olhos que se vão, nos olhos vendo
Do olhar que ele deixou lá na estação.
E vai sofrendo.
Estou como um tonel que o vinho acaba,
De vinho há um cheiro no interior;
Dentro de mim eu sei que não há nada,
Mas o vestígio há de um grande amor.
Lembro-me da amada.
Estou qual a velha casa no abandono,
Ali se alojam cobras e escorpiões;
Nosso peito, também, se está sem dono,
Dá vez para essa vaga solidão.
Que mora em ermas vidas.
Um peito sem amor é uma feriada,
Um fôlego abafado na garganta.
É a dor que se deseja mais doída.
E tudo dói em mim enquanto cantas.
Nessas horas idas.
Na panorâmica visão, foco o recinto
Como uma ave na prisão vendo lá fora,
E funde o amor em mim na dor que eu sinto,
E me agarro à solidão e, vou-me embora;
Com a dor, não minto.