MARCO DE VIDA
 
Fui fonte de amor,
procriando, amando,
seres de mil afetos.
Sou quadro, sem cor,
painel abusado,
de traços inquietos .
 
Sou vela, sou chama,
sou sal que crepita,
num fogo que adora.
Sou um ser que clama
a injustiça infinita
que a lei ignora.
 
Sou vida espremida,
marcada, ferida,
num mar de ilusões.
Sou dor escondida,
sorrindo p’rá Vida,
com mil ambições.
 
“Sou” é o meu espelho
onde a Primavera
não está mais, em nada!
‘Fui’ deu-me um conselho:
não ser mais quem era
quando mal tratada.
 
Não mais subjugas
meu corpo por gosto.
Sou ave ferida.
Farei destas rugas
estampadas no rosto,
um
Marco de Vida.

Abril de 1985
Maria Letra
Enviado por Maria Letra em 26/07/2011
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T3119050
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