Ele, o único, sempre
Ele, que me habita como se fosse,
o corpo e o sangue que me corre,
que está dentro, tomado em posse,
de mim, por mim, em tudo e escorre;
Ele, que estranhamente me ama,
que me chega e se vai sem palavras,
que se deita no meu sonho de cama,
que me jorra em cios, chuva e lavras;
Ele, que não entende nunca a falta,
que não percebe o quanto o quero,
o menino da minha nota mais alta,
da minha ópera, sempre em espero;
Ele, que tem seus amores na vida,
que se inspira em vadias tantas,
que se espalha e me deixa perdida
aos sons da melodia sem mantras;
Ele, que meu coração pulsa e sofre,
que me coloca em espera e desatino,
que não me dá a senha desse cofre:
- é o que acompanha o meu destino -
de um farol que às vezes se apaga,
de uma lira que chora seu reverso,
pela falta da palavra-mão que afaga
e por me fazer só linha de um verso.