SONETO DE INVOCAÇÃO.
Dá-me o sopro da graça, ó anjo da noite horrenda!
Afoga-me a inspiração e transfoma-me a rima em verso...
Das vagas conjecturas, imploro: não me defendas!
Escurece as luzes brancas e destrói o universo!
Afoga-me no teu orbe dourado de fantasias,
Retilinta o sino louco que na catedral já dobra.
Tinge com sangue quente minha lúcida poesia,
que de tanta insânia jaz a mais sublime das obras!
Salva-me da desgraça do que o inútil elege!
Ensina-me a misteriosa sabedoria dos teus!
Exorcisa-me os sentidos, acusaram-me de herege!
Emaranha-me na rede dos teus ávidos meandros...
Dá-me o sopro da graça, anjo do árido breu,
que eu sou vento no deserto, meu angélico andròs!