Testamento dos meus vinte e poucos anos.
Rio, 24.08.10.
Testamento dos meus vinte e poucos anos.
Não deixo bens matérias,
nunca acumulei matérias tais,
nem tanto por disprendimento,
mas por não ter tido
poder aquisitivo, talvez.
Não deixo filhos,
muito provavelmente por ter
consciência de que não teria
bens pra lhes deixar.
Deixo saudades pros que
desfrutaram do meu convívio,
aos que analisaram meu
comportamento deixo bastante
argumentos pros seus
sensos críticos,
sei que fui acomodado,
debochado,desorganizado,
ingênuo, metido a poeta,
que nunca soube
estabelecer metas,
que tantas vezes peguei revistas
e discos emprestados daquele
amigo e nunca devolvi.
Que despertei sentimentos
em mulheres e não correspondi.
Deixo a ausência de todas
as coisas boas que
podia ter feito pelas pessoas,
mas que pela minha inabilidade
prática fui incapaz
(o orgulho que nunca dei
pra minha mãe, o filho que
nunca fui pro meu pai).
Acho que de fato levo muito
mais da vida do que deixo,
pra onde levo não sei,
espero que pra algum lugar
onde a alma se eleve...
Deixo minha fé nisso.
De positivo deixo
a ausência que mais
me apraz em ter tido:
A da pobreza de espírito.
Clayton Marcio.