HOSANA

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Sentado estava Deus, e absorto

– que Deus também tem dúvida e anseio.

E chega-lhe, de manso, em pleno horto,

um magro homem e senta ali no meio.

De imediato o deus o reconhece,

é Saramago, dele não se esquece.

O homem, mesmo vendo, não acredita

e se exaltar, à toa, ainda evita.

Mas o outro – a espera não foi vã –,

mesmo Deus, o coração aos pulos,

sorri de si, e mais dos homens fulos

que, no lodo, cospem ira anã.

Mostra as guirlandas postas pelos cestos,

a festa preparada ao José,

declama, decorados, os seus textos,

demonstra com clareza sua fé.

Diz-lhe que agradece a cada dia

a negação daquele deus cruento,

do que foi só malévolo invento,

daquilo que – por Deus! – não existia.

Negando as hipócritas mentiras,

o uso da falácia e do poder,

falsa verdade que sempre o traíra,

Saramago o estava a defender.

Manso poeta, o abraço às costas,

vê ao redor de si um outro homem,

e, sem se importar por quem o tomem,

envolve-lhe, cálido, as mãos postas.