A minha dor é uma questão de Deus
Uma falta de adeus
Um ponto escuro
No colorido sem cor...
É uma fome de ter
De ter sido e ter visto
Do perdido...
É uma lembrança cultivada
Revivida, repensada
Sentida e não passada
É um presente distante
De deuses verbais...
A minha dor é só minha
Clara, pura, vazia
Me dá vida, boca pintada
Beijos no rosto, cara bonita...
É com ela que me apresento
No banco da esquina
Para a amiga do amigo
Por detrás do balcão...
A minha dor é tão egoísta
É com ela que eu durmo
No verde dos olhos
No gosto da boca
No toque das mãos...
A minha dor é cristalina
E com ela me entendo
Despida das roupas
Dos olhos dos outros
Do gesto ensaiado
Das caras e bocas...
É ela, minha dor
Que me lembra
No meio da noite
No sono insone
No sonho desperto
Que o dia
Apenas ele...
Acabou.