Retalhos da mortalha
O sol bate no meu rosto enquanto caminho pelas sobras de tudo.
Aquilo que foi um dia já não existe ao pé da estrada
e tudo o que de mais carece de perdão,
jaz na solidão das noites de frio.
Havia um repente na mesmice que alimentava a esperança
de que a vida mesmo sem fogos de artifício
não caísse como tudo cai no descuido.
Nada direi em tom de arrependimento
porque certamente mero fingimento há de parecer.
Apenas seguirei na vida tateando as velhas impressões
para não dar a dizer que de nada me serviram as lágrimas,
para não dar a dizer que tinha uma vida e perdi.
O sol virá amanhã de manhã e um bebê há de nascer no mundo.
Uma mulher há de chorar, um homem tropeçar e cair,
uma criança descobrir seu sexo e brincar de ser.
Apenas seguirei na vida, sabendo, contudo, que ainda sou.