VERSOS INFINDOS
Sofro injustiça e muito padeço,
A dor da acusação, embora vil,
Não sei porquê ou se mereço,
Vai me tornando mais hostil.
Corre o tempo e não para
Cada dia mais remoto fica
E meu coração que não sara
O amor que inda mais estica.
Vou contando lento os dias
Quanto mais fico sem tua voz
Nem sei mesmo se tu sofrias
Ou se não sofre o algoz.
Eis que a noite se amanta
Outra vez na escuridão,
Na porta, o verme canta,
Importuno coração.
O meu sono perturbado
Pelas vozes das dolênicas
O relógio acabrunhado
Marcando só demências.
Errantes os lampejos
Da luz, a frouxidão ,
Soando no ar os beijos
Que se perderam em vão.
E muito me doi o teu rancor
Na flor da refece vingança
Que me tens com rigor
Me privando da esperança.
E o sofrimento assentou,
Amigou no peito rijo
E companheiro se tornou
Usando-o de esconderijo.
Mas se no peito não há dor
N´alma não há poesia
No espírito, o langor,
Com inspiração harmonia.
E aqui inda criança bisonha
Pelos tempos de luz vivida
Pelas noites que ela sonha
Deixa a alma adormecida.
Quando dorme, recupera,
Para mais sofrer um dia,
O pulso que lateja a espera,
Espera o pejo que luzia.
E por cismar a minh´alma
Sobre como vagam aflitos
Os lumes que salpicam a calma
Como demônios malditos.
Não falo mais de tristeza
Que de tanto sentir não sinto
E de tanto falar rudeza,
Falo e não sigo o instinto.
E nestes infindos versos
Dão margens que irão seguir
Ou pensamentos dispersos
Passam a me engolir.
(YEHORAM)