Princípio

'... na paixão de um homem, na inquietude

das feras, no vermelho

que o fio da lâmina provoca

o olho acostumado a perscrutar

as máscaras, as almas, o que não se confessa...'

no instante da impaciência dos tigres

no momento das conspirações

das ordens proibidas

na instância do punhal

abro-me ao teu abraço

ao corpo único que me toma

a mente, a alma, o desejo

abro-me flor em orvalho nas pétalas

ao aroma fecundo do sândalo

em meu gosto de alcaçuz

na hora dos presságios e augúrios

à hora dos rituais de todas as coisas

dos sortilégios, das fosforescências

abro-me às febres intermitentes

ao calor e aos arrepios do contágio

aos elementos em sua seqüência

ao primeiro brilho da saliva

escorrida ao canto no canto do canto

na umidade do púbis

onde os gemidos principiam

na hora do pouso da águia

a que a terra fecunde a semente.