VERSOS MILITANTES
I
Nas ruas, as sirenes iluminam uma noite sem lua.
Nas celas, cedem as moças, pois os brutos usam a força.
Nas casas, pessoas se escondem com medo das casacas.
Nos quartéis, quem diria? A disciplina dá lugar à euforia.
II
A liberdade foi obrigada a exilar-se bem longe daqui.
Só há espaço para o futebol e a novela nos distrair.
No jornal as reportagens são receitas de bolo.
E o som de um velho violão nos serve de consolo.
III
Cem mil estão na praça, caminhando sem destino.
Hoje é um terrorista, ontem só era um menino.
A banda segue tocando uma música sem graça.
E a cultura é camuflada pra evitar as ameaças.
IV
Quem tem ouvidos ouça, não se deixe enganar.
Pois se engana aquele que pensa nos calar.
Pois se a boca não fala arranjar-se-á outro meio.
Podemos não vencer o tanque, mas o enfrentaremos sem receio.