O Cavalheiro e Maria-Flor
I. O cavalheiro
Escutem-me a voz esplêndida de fábula! Aqui sou um herói querendo pulverizar a dor que carrega no fundo do peito. Portanto concedam-me a loucura de sair pela à vida em busca de venturas. E visto os absurdos, a alma em trafego de brisa e risonho feito pássaro livre, vislumbro-me, rijo em glória. Todavia, insinua-se o meu destino: esconsolável e líquido ante o tempo, porvir. Mas aceito humilde o desfecho de lágrima, que o cumprirei em êxtase e pela minha honra não deixarei no Mundo vestígio de mágoa. De quem diz que enlouqueci não sabe há quanto tempo sobrevivo (languido) entre a engrenagem. Mas os meus músculos não aceitam mais nenhum tipo de açoite, sem zanga. E meu cavalo está chamando para juntos celebrarmos estrada. É chegado o tempo de cumprir minha sina sob areal de olvido. O escudeiro escolhido para velar-me os disparates, uma ave com sede de azul. Há de apontar-me às rotas menos pérfidas. Quanto a isso de sair pela vida fazendo combate contra a injustiça, sofrida ou a de indefesa criatura: profetizo-me uma bela em desamparo e será a minha amada. Mas eis que a jornada não é somente por desejo de vingança. É por desatar as intrigas do mestre esquecimento. Devolverei ao vilão o fruto amargo da injúria: silêncio. Sou um cavalheiro em cisma de perigo. Meu combate é por salvar os fracos de desamparos. E meu companheiro de viagem é um prodígio no método de piar contra armadilhas. Então sigo de coração cativo por Maria-Flor. A branca dama de face encoberta por distância. Ela o sonho. Eu o louco. Destinos nossos, bem traçados de vida em gozo. E erro!
II. A dama
Escuto a sua lança cavaleiro-desengano. Também estou uivando por uma solidão menos espessa. Aqui dos meus longes, o desassossego vem de amá-lo (um desconhecido) e me arrasto em busca de abrigo em uns braços que de quem não sei.
Desde o tempo em que me perdi de mim, o que era brandura fez-se desassossego. E o silêncio tem sido meu companheiro com todas as suas muitas vozes. E porque as escuto e respondo sou acusada de viver na desrazão, me dizem – a louca.
De mim sobre a flora onde fiz morada sou a jardineira, e neste jardim cultivo a farta flor de meus desatinos. Aqui onde humilde fiz ninho, acolhem-me em asas criaturas de sonhos. E uma corja de beija-flores vindos de um verão antigo me re-assistem a lágrima.
Mas, como vós o mundo me sonha nobre e bela. Então sou Maria-Flor, a habitante de seu delírio mais lindo. E porque nos encontraremos em futuro de glória, segurei entre calma e aflita esperado o amado herói. Há de chegar esse tempo: nos dois de braços dados visando a face sóbria. Eternidade! E por futuro de memória, tenho visões: que amo um príncipe de coração justo. Ele um vencedor de serpentes e dragões, eu a que espera o dia das bodas em um jardim de rosas e lírios.