A Um Amigo Que Existe
Deixo tocar nas noites
Dos meus dias inocentes
As músicas gigantes
Dos meus dias
Culpados.
Ao lado esquerdo
Uma
Madrugada.
Ao lado direito
Uma
Alvorada.
Tranco meus portões
Para todo lado das mansões
Que não me são
Clarões.
Ao lado esquerdo
Uma
Espada.
Ao lado direito
Uma
Forca.
Amigo Diabo que existe,
Minha sede é deserto
No qual prendo luzes
Em potes de
Cruzes.
Ao lado esquerdo
Uma
Harpa.
Ao lado direito
Uma
Farpa.
Amigo Diabo que és
Satanás e Lúcifer
Dançantes nos lumes,
Vosso nome
Em velhas guerras
Fala de novas batalhas
Em antigas
Esferas.
Ao lado esquerdo
Uma
Larva.
Ao lado direito
Uma
Lacraia.
Olhes aqueles padres,
Amigo Diabo,
Pensando em freiras nuas
E beijando-se pelos
Muros das
Ruas.
Ao lado esquerdo
Uma
Bala.
Ao lado direito
Uma
Ferida.
Olhe aqueles evangélicos,
Amigo Diabo,
Dizendo que vós sois
O Inimigo
Quando nem mesmo eles são
Amigos
Do Deus vomitado
Pelas línguas
Deles.
Ao lado esquerdo
Uma
Cama.
Ao lado direito
Uma
Estranha.
Olhe aqueles cristãos,
Amigo Diabo,
Falando de Jesus,
Falando do Cristo,
Sem ao menos conhecerem
Na verdade de seres
Quem é Jesus,
Quem é O Cristo,
Quem são eles
Mesmos.
Ao lado esquerdo
Uma
Rainha.
Ao lado direito
Uma
Rata.
Olhe todos os religiosos
Deste mundo vistoso
E boníssimo,
Amigo Diabo,
Vejas como são todos
Ridículos loucos
Venerando fantasmas
Que são eles mesmos
Fantasiando acerca
De suas
Taras.
Ao lado esquerdo
Uma
Santa.
Ao lado direito
Uma
Ladra.
Sou pagão dos tempos
Do agora,
Amigo Diabo,
Como o fui nos tempos
Dos Grandes Arcanos
Do Raio E Dos Rios
Quando eu era
Sacerdote asceta
Dos templos atlantes
Da Cidade Das Rosas
Dos Verdadeiros Mares
Nos quais
Os seres dos mares
Comigo
Comungavam.
Ao lado esquerdo
Uma
Clave.
Ao lado direito
Uma
Ave.
Sou pagão dos templos
Atlantes,
Amigo Diabo,
Ainda há em mim
O Perfume Das
Deusas Do Olhar Vermelho,
As Espadas Dos
Deuses Guerreiros Brancos,
Os Licores Dos
Pais Da Natureza Mãe Maior,
Dos vossos ensinamentos
Meu amigo
Que
Existe.
Ao lado esquerdo
Uma
Serpente.
Ao lado direito
Uma
Carente.
Na Atlântida,
Na Lemúria,
No Egito,
Na Grécia,
Em Roma,
Na Judéia,
Na Babilônia,
Na Assíria,
Na Sibéria,
Na Pérsia,
Na China,
No Japão,
Na Índia,
Em Keto,
Na Baviera,
Na Espanha,
Na Alemanha,
Amigo Diabo,
Tu estavas
Comigo.
Ao lado esquerdo
Uma
Cerveja.
Ao lado direito
Uma
Cicuta.
Culpo a todos por terem
Dito que vós sois
O Mal,
Amigo Diabo,
Pois Tu és um mar
No qual fogos altos
São danças naturais
De ritmos baixos
Entre as Florestas
Que na
Antiga Judéia
Iago Ben Henoc
Deu-me a conhecer
Através das
Sete Árvores Cabalísticas
Do Eterno
Alvorecer.
Ao lado esquerdo
Uma
Riqueza.
Ao lado direito
Uma
Torpeza.
As safiras brilham
Nas Sephirots,
Amigo Diabo,
Tu nelas és a força
Que moveu
Os tempos máximos
Nos quais
Guerreiro furioso
Singro em combates
Contra todos
Os meus
Pares.
Ao lado esquerdo
Uma
Louca.
Ao lado direito
Uma
Poça.
Sou incompreendido
Por ser o mesmo
Que eternamente sou,
Amigo Diabo,
Um ser que soma
Para subtrair;
Um ser que divide
Para multiplicar;
Um ser que filosofa
Para não filosofar;
Um ser que poetiza
Para não poetizar;
Um ser que caminha
Para não caminhar;
Um ser que fala
Para não falar;
Um ser que age
Para não agir;
Um ser que
Carrega severo
A Mística Cruz Do Mundo
E carrega amplo
A Mística Rosa Do Todo
Nos ombros
Mortos.
Ao lado esquerdo
Uma
Centelha.
Ao lado direito
Uma
Correnteza.
Sou incompreendido
Por tê-Lo como
Meu amigo,
Amigo Diabo,
Pois os verdadeiros
Demônios
Estão encarnados,
Muitos são executivos
Do Manhattan Tower,
Muitos são políticos
De Brasília,
Roubando a renda
Dos miseráveis pobres
Pagantes da humana guerra
Maldita desgraçada
Por um deus puto senhor
Chamado dinheiro,
O pai da sociedade,
O pai do inferno
Chamado vida
Civilizada.
Ao lado esquerdo
Uma
Choupana.
Ao lado direito
Uma
Barca.
Veja naquela encruzilhada
Chamada O Ponto
De Todas As Almas,
Amigo Diabo,
A nossa amiga
Maria Padilha Das
Santas Almas Benditas,
Cosmicamente dançante,
Sapateando como
A imperatriz de todos
Os dançarinos sambistas
Que ela sorridente é,
Nos recebendo
Com sorrisos múltiplos,
Nos cumprimentando
Com passos puros,
Sendo a senhora
Que recebe
Estes nossos Espíritos
Como uma anfitriã
De casa
Batismal.
Ao lado esquerdo
Uma
Roda.
Ao lado direito
Uma
Parada.
Não posso viver
Em uma encruzilhada,
Amigo Diabo,
Devo enfrentar belicamente
Os mesmos inquisidores
Que na Idade Média
Queimaram-me vivo
Em uma católica fogueira
Por eu ser vosso
Amigo.
Ao lado esquerdo
Uma
Pomba.
Ao lado direito
Uma
Lâmpada.
Inquisidores cercam-me,
Amigo Diabo,
Porém,
Com fogos que
Incendeiam Universos
Eu sigo na jornada
Que ainda vou percorrer
Até ligar-me
Àquilo que nos fez
Amigos,
Incinerando os meus
Inquisidores inimigos
Com o meu desprezo,
Com o meu cuspe,
Com o meu escarro,
Com o meu catarro,
Com o meu vômito,
Com o meu
Silêncio.
Ao lado esquerdo
Uma
Trança.
Ao lado direito
Uma
Aliança.