ENQUANTO É NOITE EM MINH'ALMA

Eu olho, enquanto sigo, a antiga sombra

que andeja no meu passo,

a sombra minha -

projeção de ser volante,

coisa entre as coisas que o tempo espezinha.

Arte a amoldar-se no fumo nas furnas,

crença a evolar-se do sangue na arena,

foge entre as pernas que dançam na noite,

mergulha nas águas que a guerra envenena.

Perdida no tropel dos séculos que avançam,

ressurge aqui e ali, num ou noutro país.

Ergue-se da estrada de Damasco.

Treme entre os lampiões de Auschwitz.

Acorre ao átrio do Templo de Delphos.

Queda ao pé da esfinge milenária.

Em tudo a encontro, me segue,

como se necessária.

Segue-me, inevitável.

Vara comigo a neblina.

Até que a noite em minh’alma

ao sol descerre a cortina.

Porque não projeta a sombra

o ser quando enxerga em círculo

e, por sua vez, ilumina.

(Poema do "Estado de Espírito", de Sergio Sersank

http://sersank.blogspot.com)

Sergio de Sersank
Enviado por Sergio de Sersank em 08/03/2011
Código do texto: T2835542
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