O FIM DE UMA HISTÓRIA.

Mulher de tantas cores, tantos suores,

cada parte de você foi untada com as luzes surrupiadas de mim,

nas suas ancas carnudas coloquei todas minhas peles pra secar ao sol,

na tua fervura fui fazer bailar minhas tripas mais fugidas.

Mulher dos segredos saídos dos porres que minha alma encenou,

o teu chocar de ovos faz meu mundo se colorir de vez,

as tuas verdades fez os meus guias virarem folhetins grotescos,

o teu gosto fez o meu sangue virar varinha de condão.

Mulher das miragens tantas que meus olhos pediram perdão,

adorei deixar-te acéfala buscando goles de ar nas brechas do vento,

adoro fazer-te alada só pra poder sumir destes confins num segundo,

adoro fazer-te minha filha só pra poder esquecer o que fui um dia,

se é que fui alguma coisa um dia.

Mulher que um dia caiu no meu colo sem pedir a bênção, nem licença,

que veio atracar na minha vida a sua marca de um jeito que nunca mais tiraria fora, mesmo que muito quisesse,

que veio se misturar ao meu passado feito poeira surrada de um trajeto qualquer.

Mulher que hoje está indo tão longe, sem olhar pra trás, sem olhar pra mim,

que vejo escorrendo pelo ralo com toda frieza de um corpo há séculos numa geladeira esperando reconhecimento,

que sinto sumindo cada instante mais feito uma história que não podia ter acabado assim.

Uma história que não podia ter acabado assim.

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