Falando de cavalos.
Bicho-rei, bicho-sei,
fiel estribo das fuligens da alma,
capacho amigo pro que der e vier.
O medo pouco lhe acende,
a traição pouco inflama o seu sangue,
a dor pouco engasga a sua fé.
Bicho-regato, bicho-varanda,
ancas aprumadas pro vento nascer,
aço alinhavando sua pele sem arremates íngremes,
cada fôlego é uma mata que nunca foi untada antes,
nem nunca será.
Sabe a que veio, a que se presta, a que se finca,
conhece sua lida com a sabedoria dos andarilhos sem chão,
sabe o segredo dos homens ao leve roçar na sua pele,
sabe a essência das salivas ao leve gotejar do nosso suor.
Bicho-fronha, bicho-prazer,
nas vértebras da sua alma são penduradas a farra de todos,
está sempre destilado pra compartilhar cachimbos da paixão,
está sempre na espreita de um sorriso, de um abraço, de um afago qualquer.
Bicho-alforria, bicho-mergulho,
talvez a raspa do tacho das artimanhas de Deus,
talvez o bálsamo sem regra, sem engasgo, sem ferida,
talvez a cor, o doce, a nossa estrepolia sem estribo, sem rédea, sem cicatriz.
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