As rugas viram meninas.
Minha anja amordaçada,
salgada, descabida,
gostosa feito baba de moça,
aberta feito a alforria dos céus.
Minha penca de virtudes, de varandas,
daquelas que curamos até o suor virar mel,
daquelas que flutuamos só pro nosso passo não ancorar,
daquelas que trocamos de alma só pra misturar os destinos.
Minha engasgada na hora do gozo,
daquelas que dão caimbra nos ventos,
daquelas que fazem os pássaros bagunçar o próprio ninho,
daquelas que trazem no cangote os desejos que nunca teremos nessa vida.
O golpe foi certeiro. Caiu no chão e se levantou. Olhou de relance com aqueles ódios que os deuses guardaram só para os seus sonhos. E voltou à carga com descomunal torpor, de um jeito que nunca vi antes. Se atracou de tal forma que viraram uma coisa só, numa simbiose grotesca e plenamente louca. Depois de alguns minutos, olhou para os lados e viu que ela ela estava morta. Morta de um jeito que não teria mais conserto, não teria mais perdão, não teria mais desculpa.
Minha larva que ainda vai virar botão,
daquelas que escoramos nos porões fétidos do medo,
daquelas que se vão feito o adeus que há muito queríamos arder,
daquelas que deixarão os estômagos travestidos de estopas,
daquelas que nos farão virar petecas, donos de botequim, anões bêbados, gordas putas que esperamos cada ruga virar menina e, então, as amaremos até sempre.
Até sempre, fui.
Conheça o meu site www.vidaescrita.com.br