Cheiros ciganos
Morena fogosa, de veias grossas,
de braços filetados com cedro juvenil,
boca rajada com granadas escondidas nas brechas de sua carne.
Morena poderosa, com séquitos prontos a definhar diante do seu olhar,
com passos gélidos indo e vindo de mim,
com afagos mundanos seguindo onde o sol irá se por.
Morena de mente empedrada, com suas enguias de fé rodeando nossas crias feito gosmenta reencarnação de um vento qualquer,
se fazendo de presa frágil pra cuspir sorrateiramente o mais afiado predador.
Morena de saias rodadas, com folguedos embebedados pelo meu suor,
trocando as fraldas dos seus sonhos vencidos com a destreza de um enlouquecido inseto encurralado pra sempre.
Morena de falas fora do compasso, de unhas ensanguentadas, de mentiras cravadas nas pupilas dos olhos, de desculpas ornamentando seu retrato colocado sobre a mesa.
Morena de cheiros ciganos, de alma apátria, de rojões falhos saindo do seu peito feito apodrecido carinho,
de sonhos trêmulos, capengas, capados, mal passados.
Morena de riquezas roubadas do meu além, de flâmulas que ficam estáticas ao vento, de pastos que nunca serão pisados nem, tampouco, devorados por ninguém.
Morena de traições imponentes, dos becos escondidos para quando precisar surrupiar mais um pedaço de carne-viva, dos gozos engasgados para quando quiser arrancar um novo e virgem coração.
Morena das carcaças sombrias com cheiro de bebê, destas trevas enfurecidas pelos tonéis entulhados de falsos adornos, destas camas que me jogaram pra longe até meu sangue virar nojo, virar ferrugem.
Morena que agora se escorre tonta pela relva fina dos repugnantes desejos, os mesmos desejos que um dia arranquei dos céus só pra você repousar sua cabeça e tentar dormir junto de mim.
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