Luva roubada

Vida levada,

desmamada,

vida enxurrada.

No viéz, atroz,

nos meandros, manca,

nos prantos, toda voz.

Ecos tantos, encantos,

musgos a rodo, soldos a solta,

filhos brotando aos tantos.

Vida amena, que pena, que nada,

garras puídas, pouco seguidas, tanto ouvidas,

verdade nublada, cerzida, escarrada.

Vida demoniada, viscerada, desmamada,

feito fruta mordida, ardida, marcada,

feito larva comida, falida, abandonada,

feito verso dedilhado com luva roubada, rasgada.

Vida avessa, me esqueça, me despeça, me descrença,

cada beco traduz um tombo, uma sentença,

cada calo aninha um voto, uma ardência,

cada abraço se inspira num adeus, falsa demência.

Vida rangida, ungida, possuída, esquisita,

nas tuas rugas me repouso estirado assim,

nos teus lodos me desfaço decapitado de mim,

no teu gozo me farto até depois do fim,

me farto até depois do fim.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 12/02/2011
Reeditado em 27/02/2011
Código do texto: T2787148
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