PINDORAMA
É o Vinte e Dois de Abri. As caravelas
vêm do alto mar e alcançam Pindorama.
Ancoram à distancia. A vista inflama
o entusiasmo nauta. Das procelas
temíveis, das temíveis calmarias,
os marujos trouxeram fantasias,
trouxeram medo pânico, sufoco...
Respiram livres nessa terra estranha.
Nos verdejantes campos é tamanha
a beleza! No entanto o espaço é pouco...
- É uma ilha, diz um; e é montanhosa.
- É verde e ampla; verde, ampla e bela!
- Ganhos a majestade virão dela!
- Deve ter ouro e pedra preciosa...
- E olha que gente! Nua e parda, esguia...
- Aquela, camarada, aquela, espia...
- Que formosura e que talento. Acena!
- Vou escrever a don Manuel, de já,
dizer-lhe o que achamos nós por cá,
sentencia Caminha, erguendo a pena
Em terra, olhando aquela gente estranha
falam todos a um tempo, buscam luz
de entendimento. Que será a cruz?
Sem entender, pasmados da façanha:
- São de Tupã, se dizem, de Tupã,
caminham sobre as águas de Iansã.
Querem aproximar-se. Há muito medo.
- Que nos manda Tupã, com gente alva,
que deseja de nós, que, sem ressalva,
assusta-nos assim de manhã cedo?
É o Primeiro de Maio. Em Pindorama
eleva-se uma cruz. A cruz das velas
fincada agora ao chão. Das caravelas
comanda alguém, comanda e alto proclama:
- Desçam todas à terra. À missa. À missa!
Pouco a pouco os nativos... É a premissa...
Vêm, se aproximam muitos, muita gente.
Curiosos de certo, e sempre atentos,
Sem entender imitam movimentos,
e isso agrada os marujos certamente.
Traz o descobridor sinal de paz
no símbolo da cruz. Jesus no Horto
cravejado. Humilhado. Morto, morto,
porque pregava o bem que aos povos traz
o entendimento simples, a união,
o abraço fraternal, o coração.
– Amai-vos, uns aos outros, que o amor,
conduz ao bem maior da humanidade,
faz os homens irmãos em humildade.
É o desejo do Pai - o Seu penhor.
Não vinha renovar, sim confirmar.
Pregava o bem, o amor, a paz do povo,
que a essa missão descera. Era o mais novo.
Outros vieram sem se destacar...
Em si somados, Ele os referia,
por arautos de Deus na Profecia...
Foi pregado na cruz, como impostor.
Voltava redivivo a Pindorama
na expressão de Anchieta – luz e chama
para acender a fé no Deus Senhor!
Seviciada e agredida a nova terra,
deixa de ser a eterna promissão,
criada pelo Pai – Eva e Adão.
E é a violência, a guerra, a guerra...
O paraíso branco e inferno negro.
Juntam-se português, troiano e grego,
e aos poucos desintegram Pindorama...
Extraem a tupã, poder e sorte.
E a seviciam mais... Mais guerra e morte...
Decreta-se a extinção a Pindorama...
Sem força, a igreja esvai-se no clamor.
e a pregação, a paz do jesuíta,
do capucho, do humilde carmelita,
perdem luz, perdem eco, força e amor.
Vence o conquistador. Em lucro e lavra,
quer Pindorama, toda a gente parda.
E a lei do bacamarte e a lei da farda,
impõem a força e põem a gente escrava.
Tem o nativo a flecha... A flecha é tarda
assim mesmo guerreia a gente brava...
Timidamente o pregador reage,
expulsa-o a coroa. A vilania
agora é livre, assim como queria.
É enfim a conquista, o ultrage, o ultrage.
Mas deixa o jesuíta a marca eterna
da cultura que em si se multiplica
e vai crescendo e cresce mais, e fica,
e vive ainda agora a era moderna.
O sangue de três raças, justifica
o confuso Brasil que nos inferna?
Assim porque assim, quem saberá dizer?
Creio que a voz do jesuíta é viva.
Sementeira plantada, humilde e esquiva,
que os séculos moldou e é reviver.
Força nativa e negra, eu também creio,
que se funde e refunde para o forte
de leste a oeste vai, de sul a norte.
E é a semente melhor, posta em recheio,
com o sangue de Europa, por suporte.
Peninsular ou nórdico, eu creio.
Pindorama passou, luxo e beleza.
A flora vasta, a arara, o papagaio,
a gente parda – dia um de maio,
primeira missa, amor, pura leveza...
Agora é o Brasil. Dá lucro a Portugal,
vai-se ampliando sempre mais o mal.
Nasce a política, se faz comando.
É o Sete de Setembro, a independência.
A confusão se instala e a imprevidência,
cresce e se amplia. Sabe-se até quando?
Saber-se-á de certo, este país,
é de meu filho, é meu, foi de meus pais.
Eu próprio o enfeitarei e os cabedais
serão, aos pósteros, bens de raiz.
Outros iguais a mim, assim farão,
e as pedras do caminho moverão,
para maior grandeza e mais sucesso.
Pindorama ou Brasil – paz e trabalho
nosso querer dará casa e agasalho
que a todos cheguem – sem ninguém supresso.