Chuva, Cotidiano, Asfalto
A chuva do verão de sempre
A chuva paulista que nunca acaba
que nao alivia, abafa
que não nos molha, resseca-nos
O céu escuro de todos os verões
fechando e abrindo os anos
desintegrando qualquer ameaça de esperança
A chuva nossa de cada dia
O alagamento diário de todas as casas
de todas as avenidas e de todas as almas
A chuva paulista interiorana dos verões sem fim
dos choros desesperados de todas as eras
da incapacidade da fuga, da realidade feita de concreto
pintando de negro o céu já tão o escuro
levando flores, folhas e pessoas
rodando o mundo com seu vento umidamento empoeirado
cegando-me
a chuva de todo dia
do dias após dia, o dia inteiro
e a lembrança de que até mesmo a chuva
pode deixar de ser poética
para se tornar apenas mais um infortúneo banal