Night and Day Club

De dia, tudo calma.

A noite fervilha a alma, difusa.

Polvilha estrelas confusas, divide e apavora.

Corrói e contamina, espalha pelo salão, pelo palco,

corações apertados de angústia.

Venenos gelados, goles secos e velozes

inundam terrenos hostis e desesperados.

Vozes ecoam risadas intermináveis,

frases amontoam-se e desviam-se em um trânsito caótico.

Beijos impõem-se debochados e com escárnio se agradecem.

Luzes cálidas derramam-se em movimentos de amor.

O amor, de gestos se faz revelar, incipiente.

A luz, o veneno, os beijos, as vozes, os hostis e os desesperados, o céu e os banheiros, tudo gira sem um eixo.

O amor desdenha de tudo e invade o espaço,

os incautos escorregam das cadeiras

e as cadeiras escorregam do bar

e o bar triunfa como eixo

e gira cheio de estrelas,

secas e velozes e geladas.

E o show de pernas, cabeças e ritmos

insiste em transitar altivo

e sério e superior e demarcatório.

E o amor arranca penas e patas e pelos e peitos e pulos e “bastas” e sobras e peles e portas e horas e neves e vozes e luzes e cruzes e sombras e roupas e “nossas” e “ais” e trocas e trevas e sonhos e levas de coisas na enchente que gira ... e acalma ... e vela ... e dorme.

E a noite nem agradece nem varre nem limpa não cospe tampouco,

engole e esfria e devolve,

inteiro, o dia.