ADMIRÁVEL FIM
É nesta terra devoradora de gente
que temos que lutar para viver?
Que labuta! Que suor! Que semente!
Que chôro! É sim, o morrer.
Viver é morrer lentamente,
é brilhar como numa super nova,
é lutar e morrer inultilmente,
é a vida que, de fato, me estorva.
Para terra onde vamos,
não vamos mais ficar atentos,
comamos e morramos
ou morramos de alimentos.
Já vi muitos e os coloquei lá em reza,
em cerimônia solene, mórbida, a tôa,
e a sorte que tanto me despreza
não vê que meu tempo vôa.
E vou na certeza que lutei?
Luto para ficar no mundo dos vivos,
para que eu, já muito o sei,
decomponho-me sem motivos.
Decomponho-me de sonhos,
a terra que devora a minha árdua luta,
que sete palmos vão risonhos
e ainda vigiam a minha conduta.
Não vou adentrar neste ensaio,
espero a receita da eternidade,
detesto a idéia de estar num balaio
a sete palmos de profundidade.
Terra que ao homem devora,
morte de preto que brande a foice:
Ainda não é chegada a minha hora
ainda não escureceu, ainda não é noite!
Não sei se será a esta altura
ou se meu corpo vai aos cento e vinte
ao me chamar um dia a sepultura,
acredito que sou mais um seguinte.
Mas na relatividade do tempo,
se o hoje é o ontem do futuro,
desconheço uma fração de pensamento,
que de tudo eu não tenha sido puro.
Direi adeus a terra e aos desafetos,
porque sei que um lindo dia,
todos os que me amam de corações abertos
me reencontrarão com alegria.
(YEHORAM)