EU REFLETIDO
EU
Re
Fle
Ti
do
Muito me situo
porque há o antes,
o antes que é histórico.
O agora apenas me faz refletir.
Assim, sinto quem sou.
Mas procuro e não me acho totalmente,
aliás, nem sei se me acho!
Estou no estar a meio termo.
E se me dou conta,
só dou conta de algumas mudanças:
que fui criança e cresci;
que vi águas correntes
e não fui surpreendido por elas;
que deixei as peraltices
e tornei-me homem.
Mergulhei no oceano da vida
e nele todo o meu ofício foi e é –
remar pelas águas do verbo AMAR.
Mas no profundo do meu ser...
o meu eu é que se esconde,
e brinca de esconde-esconde...
como o meu furtar no espelho.
No mais, gosto de viver...
e viver a vida com intensidade,
sem ferir qualquer processo natural
ou de construção humana.
Nunca deixar de crer, obviamente,
nem mesmo ao questionar o ilógico.
Pois, sei, que um lado de mim,
pode ser a interação com o universo
e com o Transcendente; o outro, comigo mesmo.
No mais, ao meu mister –
fica intrínseco o respeito a tudo,
o tudo de toda transição.
Porque se eu existo;
o outro também existe,
e, tudo o mais, é vaivém da vida,
conquanto, pressinto-me
no meu “eu refletido”
não refletido no espelho,
mas no meu-jeito-de-ser.
18/03/92