POESIA EVIDENTE


Se quisesse estar longe, talvez na beira...
No abismo... ou seria o impulso, pouco,
O aceno, quem sabe, saísse rouco e obsceno,
Transfixado do olhar, mais profundo,
Ou só por conjectura, faltaria o mundo e o chão...
Vez sim, vez não, a mão escorrega,
E se de um turno, emoção é cega, de outra feita...
É vidente... de evidente que é!

Há portas, emaranhadas, no tempo...
Que se abrem em sorrisos no espaço,
No penhasco das sombras, na ribanceira...
Das sobras... das dobras da estrada,
Vertendo águas torrenciais, correntes,
Inundadas de gente, de nós...
Alguns sem bote... sem rumo... sem remo.
Ora sem hora, ora sem ver.

E se te desse, eu, meu pedaço mais vivo,
Na varanda caiada, nós sobre a rede caída,
Eu te daria motivo, tu me darias morada,
Pois que o sentimento anda nu, afora a venda.
E a razão, esta tola desculpa...
Se de um lado, falta o ímpeto do pulo,
Frente à rasa margem... d’outro lado o esforço é nulo...
Pois que se ausenta a coragem.