Elegia incurável
As nuanças de um fim de tarde ofuscam os pobres olhos,
Dilaceram as últimas vísceras de alarde como único desejo de utopia.
Esquece-se daqueles indigentes sem qualquer condição de moralizar-se.
Transformam-nos em espaços vazios de alma sem prestar-lhe respiro,
Tratando-os sem esmero algum, sem conhecê-los o respeito.
Tudo se abre em angústia interminável, inalterável...
Nem sequer abrem-se as falas para fechar os corpos deste mal.
Tenta-se persuadir para fora deste infame espetáculo,
Querendo evadir-se para algum lugar menos inescrupuloso
Descobrindo que foge d’algumas mãos, por medo destas, o próprio juramento.
Corrompe-se a visão daqueles que nada suportam apenas além do próprio corpo.
Prendem-nos a um degredo da própria insegurança e desconforto,
E nada pior que tentar curar-se do próprio infortúnio que os desencanta
De qualquer desejo, sem menos pensar naqueles que apenas tentam perecer
Da angústia pior que a própria dor de não mais aguentar-se.
Foge o paciente da própria paciência em qualquer desígnio que o seja,
Pois acaba se destruindo mesmo diante de qualquer filosofia positiva.
Mas tende pelo menos piedade daqueles que não fogem do sistema,
Daqueles que trabalham sem alternar-se com o próprio conforto
E que tentam introduzi-lo em si mesmos através do próprio cansaço.
E tende ainda mais piedade daqueles que sonham acordados com mais trabalho,
Pois só assim fogem da dor e sonham com a vontade de querer mudanças no conhecimento
Daqueles que se julgam mais sábios por beneficiar-se da dor.
Tenta-se, assim, curar-se de alternativas ineficazes para conseguir consolação
E almeja-se a cura para a enfermidade conhecida, mas sem solução.