ANTÍTESE EM HOMEM E MULHER
Será que um dia acabará
o desejo que há em mim e que há em ti?
Aquele que palpita a maçã
e que gera o abraço afetuoso?
Aquele que nos leva aos afagos
e aos impulsos do beijo e do sexo?
E o que falar do anseio de viver?
Nessa dicotomia nos encontramos,
nos encorajamos, nos desencorajamos,
ou nos precipitamos pelo vínculo que temos;
e que fazemos na união dos corpos –
amor de homem e mulher; mulher e homem.
Eis a questão que me debruço;
que delego a outrem poderes sensatos;
e que investiguem desalmados por hora de canto fúnebre.
É que uns se amam, se é que se amam;
outros, apenas se atraem e se descortinam dos sentimentos.
Estes são, sim, pobres... que se deleitam no prazer,
se é que é prazer; – os toques singelos dos serenos corpos – despidos e trêmulos sem paixão, sem vibração.
Assim, não ouvem cantos nem haverá encantos, sussurros
ou gritos de prazer.
Será que é proibido gritar?!
Porque somente corações vazios...
deixam bocas sem palavras!
Já que a graça que confunde
é o sentimento que ainda não veio
e que está por trás da porta –
porta que não mostra o mundo lá fora...
Há apenas uma fresta, um raio de sol,
uma cama envergonhada, uma parede branca à frente,
e os contrastes de uma figura –
que nada fala; nada responde.
No silêncio nos sentimos a sós, juntos e separados pelo prazer (?), pela incompletude do ser-homem e do ser-mulher – em estado de humanidade, desde que caímos no Édem.
Porém, só pela cruz, estaremos totalmente desnudados, um dia, – espíritos-sem-corpos-sem-sexos (ressurretos), no êxtase do amor – que nos transporta de plano: Arrebatamento.
Aí, então, se experimentará a dimensão do Divino-Amor; que não deixará em contradição – eu e você; você e eu em anonimato, se é que nos conheceremos frente aos mistérios; mistérios dos mundos sem ciências e sem ideologias – onde tudo começa e se encerra.
Ali não haverá mulher e homem, nem procriação, nem pátrio-poder.
Só um gênero, um só ser, o ser, – o Senhor!
com seu povo, sua semelhança – em congruente estado de contemplação...? Se é que cremos no porvir – no qual não haverá tempo, não haverá sol, nem cronologia, nem escatologia, mas o perfeito amor!
Amor de Deus sem mulher; amor de Deus sem homem – em plenitude... no qual nos entronizaremos e nos transfiguraremos sem contrastes, espécie de corpos espirituais na essência do Sacrossanto-Amor.
Uilson
21/11/1992