Inflação
Recebi o pagamento
E fui fazer a feira.
Gastei num só momento
O que levei na algibeira.
Pra aumentar o tormento,
Vi vazia minha carteira.
Isso é descaramento,
É paulada na moleira.
Não sei mais o que faço,
Para poder sobreviver.
Com o salário tão escasso;
Que mal dá para comer.
Se eu falo com o patrão
E o assunto é aumento.
Ele diz: sem inflação!
Isso não tem cabimento.
O que sei e o que vejo,
É a verdade, nua e crua.
Todo dia tem despejo
E mais gente vai pra rua.
Sai governo e entra governo,
E a miséria nunca cessa.
O pobre, o subalterno,
Vai vivendo de promessa.
Ás vezes fico pensando
Que, isso aqui não tem mais jeito,
E um vazio vai entrando,
E enchendo o meu peito.
Quem dera se Deus voltasse
Ainda hoje, se possível,
E de uma vez acabasse
Com esse mal tão terrível.
Que se chama inflação,
E aos poucos nos consome.
O presidente, meu irmão:
Quer matar a própria fome.
E agora vou me calar,
Não vou dizer mais nada não.
Pois se acaso eu continuar;
Vão é me por noutra prisão!...