Inflação

Recebi o pagamento

E fui fazer a feira.

Gastei num só momento

O que levei na algibeira.

Pra aumentar o tormento,

Vi vazia minha carteira.

Isso é descaramento,

É paulada na moleira.

Não sei mais o que faço,

Para poder sobreviver.

Com o salário tão escasso;

Que mal dá para comer.

Se eu falo com o patrão

E o assunto é aumento.

Ele diz: sem inflação!

Isso não tem cabimento.

O que sei e o que vejo,

É a verdade, nua e crua.

Todo dia tem despejo

E mais gente vai pra rua.

Sai governo e entra governo,

E a miséria nunca cessa.

O pobre, o subalterno,

Vai vivendo de promessa.

Ás vezes fico pensando

Que, isso aqui não tem mais jeito,

E um vazio vai entrando,

E enchendo o meu peito.

Quem dera se Deus voltasse

Ainda hoje, se possível,

E de uma vez acabasse

Com esse mal tão terrível.

Que se chama inflação,

E aos poucos nos consome.

O presidente, meu irmão:

Quer matar a própria fome.

E agora vou me calar,

Não vou dizer mais nada não.

Pois se acaso eu continuar;

Vão é me por noutra prisão!...

Roberto Jun
Enviado por Roberto Jun em 03/10/2010
Reeditado em 30/05/2014
Código do texto: T2534944
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