Oculto HOJE
Oculto
Fernando Pessoa
1888 a 1935
OCULTO HOJE
Mário Osny Rosa
1934 a 2006
Súbita mão de algum fantasma oculto
É O QUE VIVEMOS NO MOMENTO
Entre as dobras da noite e do meu sono
SEM VISLUMBRAR O FUTURO
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
ESTAMOS NUM PAÍS SEM DONO
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
QUE NÃO SABE, E NEM ENXERGA.
Mas um terror antigo, que insepulto
AGORA É MODERNO, COMO UM INFERNO
Trago no coração, como de um trono
JÁ PERDI TODA A EMOÇÃO NO DESTRONO
Desce e se afirma meu senhor e dono
NEM SEI CERTO QUEM É MEU AMO
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
SEMPRE VIGIADO, POR UM SER INCULTO.
E eu sinto a minha vida de repente
NEM SINTO A VIDA ESTAR PRESENTE
Presa por uma corda de Inconsciente
SEM RESISTÊNCIA A CORDA JÁ ROMPEU
A qualquer mão nocturna que me guia.
UMA MÃO SOTURNA QUE NOS SURRUPIA.
Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
UM JOÃO NINGUÉM EM PARTIDA PARA O ALÉM
De um vulto que não vejo e que me assombra,
ESSE VULTO QUE JÁ É UMA GRANDE AMEAÇA,
E em nada existo como a treva fria.
NA TUMBA JAZ UM FILHO, O QUE SERIA.
Fernando Pessoa
1888 - 1935
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