AO SOM DO PIANO
Zenaide Giovinazzo


Ouvi o som do piano e como quem adivinha palavras  tentei decifrar a melodia.
Caminhei lentamente pela sala pisando com delicadeza.
A musicalidade do bolero estremeceu meu coração, arrepiou meu corpo, forte emoção!
Reconheci a melodia. Minha preferida ao piano.
A melodia que me transportava a outras eras, a outros tempos, a alguma outra existência.
Os acordes inundaram o ambiente...
Pensando, em segundos, no resumo de uma história de vida, lembrei-me de você.
Olhei para a imensidão do Cosmo e vi as estrelas.
Na brisa suave que espargia o perfume dos jasmins meus pensamentos voaram procurando-lhe.
Baixinho, chorei de saudade e uma leve tristeza invadiu meu ser.
A distância sempre pareceu-me cruel... e perguntei-me porque  encontrei-o em circunstância tão original.
Teria sido um presente ou um castigo?
Revelando à noite os segredos da minha alma, conversei com o vento e supliquei que levasse até você meu carinho e meu chamado.
Repentinamente o vento emudeceu envergonhando-se diante de tamanha afinação, diante de tamanha musicalidade e perfeição, e dei-me conta de que ainda ouvia o som do piano.
Olhei para o alto procurando resposta nas nuvens, desenhos infantis que recordassem suas risadas.
Pensei no seu lado de menino birrento que encontrou refugio em meu peito e mesmo contra seus firmes princípios, nele aninhou-se, e sonhou, e brincou, e brigou, e amou, e deixou afugentar os temores, e foi real...
Assim como foi real ouvir o bolero, lá longe... ao som do piano...

SP/23/09/2010