sem título
deitei meu bom vinho
no teu cálice escarlate
e o que era róseo enegreceu
tal qual sangue velho, ou chocolate
desperdicei o meu melhor tinto
em odes a um amor natimorto
vilipendiei meu precioso porto
dei aos porcos a minha melhor parte
e tudo o que obtive de retorno
foi o beijo avinagrado
vindo de um sorriso morno
e o que era nobre embruteceu
e se contorceu como num enfarte
deitei meu doce madeira
no teu branco ventre outrora meu
e do meu próprio licor provaste
destilando promessas de que me farias teu
então entreguei-lhe meu precioso xerez
abri-lhe a guarda da minha rica colméia
e tu, maliciosamente, por sua vez
prendeu-me à ilusória idéia
de que tudo se dissiparia após a embriaguez.