COLAREMOS OS LÁBIOS
José António Gonçalves
Colaremos os lábios em silêncio
ao som do regato de águas cristalinas
por onde nos banhamos num bailado
de serenas imersões
ao espelho dos cavalos bravios
quando lavam suas crinas
Colaremos os lábios e esqueceremos
o tempo a importância das portas o bater
das janelas em noites de tempestade
e copiaremos a demora das estátuas
no revelar as emoções
que escondem nas suas almas estáticas
no seu permanente adormecer
Colaremos os lábios e partiremos em revoada
como um bando de gansos selvagens
para destino longínquo desconhecido
sem que haja uma pluma de desentendimento
no comando das decisões
e seremos os seres etéreos
que sabem renovar a fonte dos dizeres plenos
e ouço-te surdamente chamar meu amado
e cicio-te respondendo
minha amada
José António Gonçalves
(inédito.02.07.04)
http://members.netmadeira.com/jagoncalves/