FUGIR

Fugir sem deixar nome ou filho

Sem mapa, andarilho

Fuga que escape à análise

Sem deixar pé

Para dissecação de alguma psicanálise

Fugir sem encarar a lógica

Sem enumerar os muros

Sem lembrar mala sem levar passaporte

Fuga da vida, da existência, da morte

Sair de dentro da conspiração

Que irá salvar ou deletar o mundo

Sair da mira do marqueteiro

Não figurar na margem de erro ou acerto da pesquisa

Fugir do bar e do carboidrato

Do cuba libre e do Fidel Castro

Fugir do abraço que exige contrato

Fugir do beijo que se transforma em retrato

Fugir da fórmula da felicidade e do sermão

Da teoria da prosperidade e do voto de pobreza

Escapar por um triz do amuleto e da cabala perdida

Fugir do ibope e do show da fé

Sair correndo, voando, por teletransporte, de marcha à ré

Do cidadão de bem, do homem honrado

Que adquire orgulhosa corcunda com o peso das medalhas

Fugir da idéia de raça e da cota para estudar

Do bolsa-família e do bolso do ministro

Fugir da seca, da enchente, da ressaca

Não engrossar o coro da estatística

Não ser voz vencida no coral contente da igreja

Fugir sair correndo da passarela

Ser exilado pelos tiranos da ditadura da beleza

Fugir do corpo e da necessidade de descanso

Fugir da alma e da necessidade de salvação

Fugir sem deixar nada para trás

Nem lembrança que fustigue uma história

Nem uma pegada que renda uma hipótese.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 11/09/2010
Código do texto: T2492331