Hoje
 
 
Hoje estou sem  motivo para cantar
ou contar.
Nem prosa e nem verso.
E da vida, só o  reverso.
Um dia sem jardins,
sem rosas ou espinhos.
Nenhuma nuvem no céu azul.
Nenhum  carneiro nos pastos secos,
para contar
enquanto o sol amarelo
se reflete no capim quebradiço.                       
Um silêncio oco ecoa na alma
e na  palma da mão.
A caneta está seca
como o regato sem água,

o telhado sem gato
e o lápis sem ponta 
não  aponta nem escreve
ou faz   conta
de coisa alguma
ou nenhuma.
 
Um único verso para a canção dos pássaros 
e do coração.
Hoje estou sem alma para amar
sem mar pra navegar
e no bolso do avental
só rimas pobres para usar.
Comida sem tempero
não dá gosto cozinhar.
 
Lavras, o4 de setembro de 2010