O encontro com o desconhecio
A voz de Rin ecoava no vento... Estava a mil por hora, cavalgando um lindo corcel negro, presente do pai quando criança. Era uma exímia amazona. Aprendera a montar escondida, pois o senhor Takeshi, administrador da propriedade a ensinara, depois de ela tanto insistir, sob juramento, que jamais contaria nada a ao pai. Mizuki sempre a levava para as aulas. O senhor Takeshi recomendou que não cavalgasse fora dos arredores permitido, para que não fosse vista por ninguém. Mas pode-se tirar as asas de alguém que aprendera a voar? Ou no caso, montar?
Saia todas as tardes, em dias alternados. Sempre tendo cuidado de não ser vista, exceto pelos escravos e empregados, que como ela sempre fora amável com eles, a protegeriam se preciso fosse.
Dentro da propriedade existia uma cachoeira, cuja nascente era de águas termais. Uma piscina natural se formava debaixo de suas quedas, tornando-se um lugar convidativo para um banho. Rin após a corrida sempre descansava nessas águas bem no finzinho da tarde.
Como filho mais velho de uma nobre família de youkais das terras do Oeste, Lorde Sesshoumaru assumiu o título e os negócios do pai, Inutaisho, logo após a sua morte. O irmão Inuyasha era muito novo, e ficara sob os cuidados do velho Miyuga, já que tinha que partir para uma longa viagem, a fim de percorrer cada província do país, pois o pai tinha muitas propriedades e negócios nelas e precisava saber como tudo estava. Imediatamente partiu com sua comitiva, pois recebera um convite do imperador para se apresentar diante dele e numa cerimônia oficializar o título já herdado.
A comitiva chegou à Província de Osaka, nas terras de Shura. Sesshoumaru perguntou ao seu fiel lacaio Jaken quem era o representante delas, pois se dirigiria a ele para que hospedasse a todos. Era costume que o senhor feudal abrisse a porta de sua casa para um nobre de fora, ficando este o tempo que quisesse, sendo atendido em tudo que desejasse. Desceu da carruagem, pois a paisagem do lugar chamou-lhe a atenção.
- Jaken! Siga até a casa do senhor desta propriedade. Diga que Lord Sesshoumaru ordena que hospeda a todos imediatamente! Eu irei logo em seguida e quero encontrar descanso!Vá!
- Sim, senhor Sesshoumaru, como quiser...
Jaken saiu com a comitiva e Sesshomaru pôs se a caminhar. Mas logo parou, percebendo a presença de alguém bem perto. Ouviu o barulho da queda da cachoeira e aproximou-se, apreciando o que seus olhos encontraram nas águas.
- Ora, ora, ora! Que temos aqui? Uma linda donzela banhando-se? Estou vendo que esta região não deve ser tão monótona... Creio que, se me detiver um pouco por aqui, encontrarei muito com que preencher meu tempo...
Rin tinha acabado de sair da água. Estava de costas para Sesshoumaru e não notou sua presença. Vestiu-se rapidamente, deixando o youkai aborrecido, pois estava gostando de vê-la. E era uma pena que tenha durado tão pouco a cena.
Rin montou o cavalo e saiu, deixando a cachoeira livre para o youkai.
"Agora é minha vez de entrar...".
Estava tirando a parte de cima do traje, quando só deu tempo de esquivar-se da lâmina que quase cortou seu rosto. Deu um pulo para trás e pôde ver quem lhe atacara. Era Rin, que tinha voltado.
- Que faz aqui, estranho? Que faz nas terras de Shura? Sabia que é crime invasão? Ou não teme pela própria vida?
Perguntou-lhe, com a espada em punho.
- Menina insolente! Tua mãe não lhe ensinou que diante dos homens nunca deve lhe dirigir a palavra, a não ser que te peçaaaamm... Sacou da Toukijin e a atacou, mas ela se esquivou.
- Minha mãe não teve tempo pra me ensinar, estranho... E aprendi sim, que diante de bandidos devemos ficar em alerta e não dar nenhuma chance...
- Eu, bandido? Não me faça rir...
Rin observou-o. "Trajes de nobre". Realmente não era um bandido, estava muito bem vestido para isso.
- Vai ver você atacou algum nobre e está usando as roupas dele!
- Que temos aqui? Uma menininha que gosta de contar piadas! Falou isso e foi pra cima. Só se ouvia o estalar das lâminas no ar. Rin manejava bem a espada, aprendera com o pai.
Sesshoumaru por sua vez não ficava atrás. Só que não usou toda a sua força. "Vou deixar esta tola pensar que está podendo comigo, vamos ver até onde isso vai!", continuou a luta com ela. Rin estava se cansando. "Puxa, ele é forte! Mas isso não me intimida". Deu dois passos para trás e passou por trás de Sesshoumaru, que pôde sentir a lâmina mais uma vez perto do rosto. "Droga! De novo! É corajosa também, demonstra que não tem medo. Gosto disso. Só que dessa vez você me paga!"
Foi para cima dela e num golpe só fez a espada cair fincando no chão, deixando Rin totalmente indefesa.
- Co-como fez isso?...
- Isso se chama ter habilidade, menina! E foi para cima dela, segurando-a pelo braço.
- Hei, que faz? Não me toque, estranho imundo! Se debateu, tentando se soltar dele, mas ele a dominou jogando-a no chão, sentando- se em cima dela.
- Sai de cima de mim!
- Gosta de dar ordens! Eu detesto obedecê-las!
Rin o empurrou, mas ele segurou seus braços.
- Quem você pensa que é para me tratar dessa maneira, sua insolente? Eu poderia matá-la por tal afronta! Se soubesse quem te fala sairia correndo pra bem longe com medo e...
- Há! Medo? – ela o interrompeu – Eu nunca teria de alguém como você!
- QUE?...como ousas? Já vi que não te ensinaram boas maneiras também, cavalga, empunha espada, te ensinaram coisas que um homem faz..
- Não! Me ensinaram a se defender de gente como você! Estúpido... sai!
Ela se debateu mais uma vez fazendo com que o kimono se abrisse, quase deixando os seios quase a mostra. Sesshoumaru se deteve neste detalhe.
- Uff! Apesar da insolência e malcriação, tenho que admitir que é muito bonita... Falou isso colocando a mão no colo dela deslizando pra dentro do kimono. Teve várias idéias do que fazer com ela nesse momento.
Rin congelou. "Que está fazendo? Não pode me tocar desse jeito?". Parecia que seu corpo não respondia as ordens do pensamento de sair dali correndo, que queria ficar ali entregue aquela sensação maravilhosa que o toque da mão dele causava.
Sesshoumaru se inclinou bem perto do rosto dela e sussurrou-lhe:
- Tem algo de especial em você, humana!
Estas palavras fizeram Rin ter uma súbita reação – Nããooo! – empurrou o youkai, fazendo cair sentado no chão e saiu dali correndo. Sesshoumaru riu da fuga dela.
- Há, tola! Assustou-se! Acho que nunca lhe fizeram isso! Mas eu vou te encontrar, menina! Não vou te matar, ainda. Vai lamentar por ter cruzado o meu caminho.
Rin correu tanto, que até se esqueceu do cavalo. Viu que estava bem longe e sentou embaixo de uma árvore para tomar fôlego. "Quem pode ser esse youkai? Pensei que era um bandido, mas é um nobre que sabe empunhar bem uma espada! E que atrevido! Como ele teve coragem de me tocar daquela forma, tão íntima? E que sensação a mão dele me causou, senti o corpo todo queimar, desejar que ele continuasse... que estou dizendo? Se me pegam pensando nisso acabarão me surrando. Estas coisas só acontecem entre um casal, só!"
Começou a andar em direção a casa, vendo o cavalo mais a frente. Montou, ainda pensando no encontro com aquele desconhecido. Teria que achar uma boa explicação para ama, por que chegou tão tarde, quase ao anoitecer. Jamais contaria o que de fato aconteceu.
Sesshoumaru chegou à casa grande e fora muito bem recebido pelo senhor Akisawa.
- Seja bem vindo, Lorde Sesshoumaru! – o cumprimentou baixando a cabeça em sinal de respeito – Fui avisado de sua chegada e como ordenara, todos da sua comitiva fora devidamente acomodados. Seus aposentos encontram prontos, e um banho também. Fique o tempo que desejar permanecer nesta humilde casa.
- Eu agradeço.
- O jantar será servido e quero nesta ocasião apresentar minha filha para recebê-lo como convém.
"Uma filha? Espero que não seja uma insolente como aquela da mata! Ou talvez não."
Rin entrou pelas escadas de acesso dos empregados. Subiu rapidamente e correu para o quarto. Entrou, fechou a porta certa de que não fora vista por ninguém. Mas para sua surpresa, a ama já a esperava pronta para um sermão:
- Isso são horas de uma moça decente chegar em casa? Por onde andou?
- Ah, Mizukinha, por favor, bronca agora não, eu te peço...
- Está livre de uma agora graças ao novo hóspede de seu pai!
_ Novo hóspede? Como assim?
- Por isso estou aqui. Enquanto a mocinha passeava fomos agraciados com a vinda de um nobre – Mizuki lhe falava enquanto preparava o banho e separava o traje para a ocasião - É para a senhorita se arrumar para que seu pai possa apresentá-la no jantar. E tem que ficar linda, pois "ele" é muiiiiiiiito elegante e bonito.
-"Bonito" - Rin pensara, enquanto entrava na banheira - "Uff, quantos não aparentam isso e por dentro escondem os piores sentimentos e atos". Já tinha esta opinião, pois ouvira histórias de muitos homens que, por terem poder nas mãos, faziam horrores com todos a sua volta. "Esse não difere em nada, só é mais um entre tantos."
- Ficou linda! Parece uma princesa! – Exclamava a ama, enquanto admirava Rin, que terminava de se arrumar – Vamos que estão nos esperando!
Realmente ela ficou muito bonita. Só usava os trajes de festas em ocasiões especiais, e isso onde vivia era raro. Desceram as escadas, onde todos a aguardavam, principalmente o pai, pois queria apresentá-la o quanto antes a Sesshoumaru, que estava impaciente com a demora.
- Filha amada! Está linda! Venha, quero que conheça o nobre que nos fará companhia nesta casa pelo tempo que desejar... Se aproximaram de Sesshomaru, que estava de costas tomando um cálice de vinho, sempre servido antes do jantar.
- Lord Sesshoumaru, esta é minha filha Rin!
Quando Sesshoumaru virou-se e Rin pôde ver quem era, quase caiu de costas!
- "O..o..o youkai da mata! Não pode ser! Quem eu enfrentei a pouco...céus!" Quase que desfalece, se o pai não a segurasse!
- O que houve filha? Não está bem?
- Eu..eu...pai... – as palavras mal saiam da boca dela. Ele! Ali na sua casa! Hóspede pelo tempo que desejar! "Céus, se ele quiser, contará tudo ao meu pai, o que fiz, e... que faço?" pensou, enquanto se esforçava para ficar de pé e não caísse de vez na frente dele.
Para Sesshoumaru aquilo era a última coisa que ele esperava! Quando virou-se e viu quem era a filha de seu anfitrião, não disfarçou nem um pouco o sorriso que fez. "Ora, ora... quem temos aqui? A insolente da mata? Filha do senhor das terras de Shura? Na minha frente, submissa e recatada, lá fora, uma leoa com garras! Isso está me saindo melhor do que a encomenda!" Estava se deliciando com o olhar de desespero dela, pois percebera que com certeza o pai nem tinha idéia do que ela fazia escondido dele. "Seria interessante contar tudo, mas algo me diz que ainda era cedo para revelações, e ademais, eu quero me divertir!"
- Vamos filha! Cumprimente o senhor!
- Claro, papai, desculpe! Rin se aproximou, com a cabeça baixa em respeito a ele – Se-seja... bem vindo a nossa casa, Lorde... Ses-seshoumaru! Mal saíra as palavras, sabendo que com certeza estava nas mãos dele!
Sesshoumaru chegou bem perto dela, bem do lado e disse-lhe em tom baixo: - Uff! Que mundo pequeno, não acha? Se tão somente eu quisesse falar ao seu querido pai tudo... há! – Rin sentiu o coração gelar. Fechou os olhos e desejou sair desse pesadelo. – Mas não vou fazer isso...ainda! Terminou de sussurrar estas palavras ao ouvido, e pode sentir o quanto ela tremia.
Ela abriu os olhos para ter certeza que ouviu aquilo -"Ainda? O que ele pretende?"
- Vamos nos sentar que o jantar está servido! - disse o pai, estendendo a mão a filha para levá-la a mesa – venha...
- Por favor, faço questão! – interrompeu Sesshoumaru.
- Ai que cavaleiro! – cochichou Mizuki no ouvido da menina, pois estava bem próxima dela.
Ele estendeu a mão para ela, e não sabia se correspondia ou não. Se não o fizesse ia ser uma tremenda falta de cortesia e desrespeito para com o hóspede e a suma importância da pessoa dele, podendo acarretar um enorme problema para o pai. Por outro lado, tinha que admitir: estava nas mãos dele! Só ficou imaginando o que aconteceria se ele revelasse a ousadia dela na mata! Que explicações daria ao pai?
Resolveu por fim aceitar e foram para a mesa. Durante o jantar o assunto do senhor Akisawa e Sesshomaru foi de negócios que ambos tinham. Só mais no final que teve outro rumo.
- O senhor tem uma filha muito bonita, se me permite o elogio... Sr. Akisawa – disse olhando qual seria a reação de Rin.
- Muito obrigado! É muito gentil. Ela herdou a beleza de minha falecida esposa, se parece muito com ela...
- Eu imagino... – Sesshoumaru só a observava. Ficou imaginando a vontade dela de lhe responder, mas sabia que tinha que permanecer em silêncio, e só falar se fosse permitido.
- Para mim uma mulher tem que "sempre" saber o seu lugar, e "nunca" ousar sair dele, e jamais ter a ousadia de desejar ou pensar em se igualar aos homens, e considero esta a condição ideal colocada pelos mesmos, não acha senhorita Rin? Lhe fez a pergunta em tom de provocação, enquanto bebia uma taça de vinho.
Rin fitou o olhar nele antes de responder.
- Tem toda razão, Lord Sesshoumaru! - Mas acredito que esta condição fora imposta por homens que, no fundo, tenham medo que as mulheres possam se tornar melhores do que eles em muitos aspectos.
Sesshoumaru engasgou com a bebida após ter ouvido isto, e fazendo com Mizuki quase soltasse uma risada na frente de todos a mesa.
- "Insolente... e abusada também! – pensara, enquanto se enxugava com o guardanapo.
- Rápido Mizuki – socorreu o sr. Akisawa, que não fez caso da resposta da filha – traga uma toalha para o sr. Sesshoumaru!
- Não há necessidade, sr. Akisawa! Acidentes acontecem!
Rin baixou a cabeça com uma enorme vontade de rir da cara dele. Se fizesse isso com certeza ele contaria tudo. "Ou ainda não"?
- Papai, posso me retirar, quero me recolher mais cedo esta noite – pediu permissão para sair da mesa, não queria ficar mais ali sendo fulminada pelo olhar de raiva do youkai.
- Claro, se é o que deseja. O senhor não se importa, não é Lorde Sesshoumaru?
Ele a olhou meio que atravessado. Seria a chance de lhe dar o troco, mas resolveu que não – "Eu vou te esperar, menina!"
- Fique a vontade!
Rin saiu da mesa agradecendo a todos e subiu correndo as escadas. Foi para o quarto com o pensamento a mil. "O que ele pretende? Ele não vai deixar por assim a resposta que lhe dei... E por que não falou nada? Droga! Que sensação horrível de estar nas mãos dele e não saber o que vai fazer... E pior, não posso contar pra ninguém, estou sozinha nessa..." Deitou na cama, encolhida, imaginando o que Sesshoumaru teria para ela. De certa forma, que ela não sabe, o youkai mexera com ela. "Ele é diferente, tem algo a mais nele..."
A única coisa que lhe restou fora tentar dormir e imaginar o que dia seguinte lhe aguardava...