SAUDADES, PAPAI!
Lembro ainda com tanta nitidez
Que até sinto a sua respiração
Despedimo-nos quase mudos ao portão
Ambos sabíamos que era a última vez
Você estendeu-me a mão direita
Na esquerda trazia minha maleta
Que eu esquecera na saleta,
Uma gentileza nunca antes feita.
E disse-me com o olhar carinhoso
“Ainda nos veremos, em outra ocasião”
Para disfarçar a minha emoção
Disse “claro, papai”, de um jeito jocoso.
Nesses dias você só falou da sua juventude
Sem querer você estava sendo muito duro
Porque somente quem não pensa mais no futuro
É que costuma ter esta atitude.
Eu sentia que você estava se despedindo
Dos filhos, da vida, de seus amigos
Estava arrumando sua casa, seu abrigo
Para seguir o seu outro caminho.
Cinco meses depois você foi embora
Para junto de mamãe, pro outro lado da vida
Porém, a recordação daquela despedida
Está presente em mim toda hora.