PARTIDA

Lamúrias e choro de velas

Clamores que vão ao além

Chamados ininterruptos para a grande viagem

Para lá todos vamos nós

Saudade, nós de amarra que a perseverança encurta

Piedade do coração para aplainar a dor de quem parte

Partida que deixa corações nus e desesperados

Lúgrubes caixas fúnebres veladas à luz de velas

Seu conteúdo, apenas cascas expostas ao relento

Almas que partem repartindo vidas

Idade, que não espera o barco que busca respostas para o dia da ida

Pleiâde de insignificâncias quando chega a hora de virar a página, curar a ferida

Lenços que enxugam lágrimas incontidas

Rios de dor que resgatam lembranças disformes náufragas no passado

Saboreando em cada recorte, memórias que oscilam entre o riso e a dor

Amor, esse ungüento que seca as chagas da perda repentina

Paixão, droga sem medida que encharca mais a chaga que brotou

Quem parte deixa a luz acesa

Apagues a luz e refresque a dor da partida

Cerra o pano, segue a vida

Abaixe a cortina, encerre o ato

Guarde o retrato

Lambe a ferida

Arranque a farpa que arpoa o coração

Deixe apenas as lembranças recortadas

Retalhos espalhados sobre a mente em agonia

Guarda-as no porta-retratos da mente

Semente que brota, e assim, de repente

A cada dia permeia o amanhecer de pequenos pedaços

Sonhos, máquina do tempo que carrega-nos em suas asas para o infinito

Faz do espaço-tempo o nada a separar-nos de lugares e dias

Morte, palavra inexistente no livro da vida

Eterna incógnita nas dúvidas dos incrédulos humanos

De onde viemos?

Para onde vamos?

Senta-te e espera, a hora é vinda

Cada um já tem escrito

Desde o dia que chega

Exatamente...

O momento de sua partida

...Sonhe, navegue, voe, ame, intensamente enquanto há vida...

JANA CRAVO
Enviado por JANA CRAVO em 22/07/2010
Reeditado em 22/07/2010
Código do texto: T2393079
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