PARTIDA
Lamúrias e choro de velas
Clamores que vão ao além
Chamados ininterruptos para a grande viagem
Para lá todos vamos nós
Saudade, nós de amarra que a perseverança encurta
Piedade do coração para aplainar a dor de quem parte
Partida que deixa corações nus e desesperados
Lúgrubes caixas fúnebres veladas à luz de velas
Seu conteúdo, apenas cascas expostas ao relento
Almas que partem repartindo vidas
Idade, que não espera o barco que busca respostas para o dia da ida
Pleiâde de insignificâncias quando chega a hora de virar a página, curar a ferida
Lenços que enxugam lágrimas incontidas
Rios de dor que resgatam lembranças disformes náufragas no passado
Saboreando em cada recorte, memórias que oscilam entre o riso e a dor
Amor, esse ungüento que seca as chagas da perda repentina
Paixão, droga sem medida que encharca mais a chaga que brotou
Quem parte deixa a luz acesa
Apagues a luz e refresque a dor da partida
Cerra o pano, segue a vida
Abaixe a cortina, encerre o ato
Guarde o retrato
Lambe a ferida
Arranque a farpa que arpoa o coração
Deixe apenas as lembranças recortadas
Retalhos espalhados sobre a mente em agonia
Guarda-as no porta-retratos da mente
Semente que brota, e assim, de repente
A cada dia permeia o amanhecer de pequenos pedaços
Sonhos, máquina do tempo que carrega-nos em suas asas para o infinito
Faz do espaço-tempo o nada a separar-nos de lugares e dias
Morte, palavra inexistente no livro da vida
Eterna incógnita nas dúvidas dos incrédulos humanos
De onde viemos?
Para onde vamos?
Senta-te e espera, a hora é vinda
Cada um já tem escrito
Desde o dia que chega
Exatamente...
O momento de sua partida
...Sonhe, navegue, voe, ame, intensamente enquanto há vida...