JOÃO GONÇALVES ZARCO NO «ILHÉU» DE CÂMARA DE LOBOS

José António Gonçalves

se o mar chegar à varanda

a culpa é exclusivamente

minha e da palavra varanda

ou será da própria água do mar?

se os pássaros se calarem

de vez no jardim dos seus encantos

será por me escutarem as preces

ou porque temem repartir as lágrimas

com que me afogo aí

pelos cantos?

se a galera não voltar a navegar

porque o vento se recusa

a visitar o velame

haverá alguém que me chame

e me culpe

num torvelinho de bebedeiras

do que se está a passar?

esqueçam-me por aqui quieto

nas mãos do tempo sempre igual

desenhando mapas de terras-novas

ilhas continentes povos tesouros

tudo o que há ainda por descobrir

à espera das miragens

de Colombo.

um dia

cansar-me-ei dos lobos marinhos

da linha recta do horizonte

aqui tão perto

e decidirei voltar às viagens

aproveitando as correntes

do mar do sul

por ora vivo num arco-íris

embriagado de verde

e de azul.

José António Gonçalves

(inédito de 31.05.04)

JAG
Enviado por JAG em 10/06/2005
Código do texto: T23678