FRUTOS MADUROS

José António Gonçalves

escrevemos as cartas de amor

e subimos cada um à sua árvore

em busca de frutos maduros

apenas um pássaro verde abriu as asas

e a tarde transfigurou-se como o vinho

no jarro do tempo pairando

sobre o telhado antigo das casas

o Sol escondia-se no teu olhar

e eu deixava-me ir como uma nuvem

em chamas

na viagem do teu coração

crepuscular e doce

de vermelhos e amarelos luzidios

até parece que a partir de então

os invernos não chegaram mais

ao nosso regaço

prisioneiro de uma primavera eterna

algo aconteceu

desde esse instante

de constelações

em movimento

conto-as

em somas de calafrios e pressinto-as

no roçar breve da tua perna

numa fugaz memória incessante

que se alojou para sempre

num recanto desconhecido

do meu pensamento

José António Gonçalves

(inédito.25.5.04)

JAG
Enviado por JAG em 10/06/2005
Reeditado em 13/06/2005
Código do texto: T23674