HEMORRÁGICO AMOR
Será à mesa da tua fartura que matarei a fome
do conhecimento e lamberei o prato da sabedoria?
Em que pé de vento calçarei a serenidade furacônica
das minhas tempestades mais levianas?
Qual livro ousará revelar os romances tórridos que
eu nunca tive e as doenças que cultivei em segredo?
Em que mar de lama meus olhos azuis plantarão rosas
e colherão valentes violetas, cheirando à sarjeta?
Que estrela fecundará em seu ventre as ideias que
lancei no ópio da noite, entorpecido pelo êxtase lunar?
Quantos bêbados vomitarão suas poesias tontas
na boca do estômago das minhas horas insones?
Em que barco naufragará a tristeza da minha alma
que me afoga e afunda, em terra firme e de ninguém?
Quantas folhas tombarão no outono dos meus olhos
revelando a paisagem pardacenta das minhas retinas?
Em que túmulo jazerá o verso anêmico que sangrou
até a morte, em nome do nosso hemorrágico amor?