Sizígia
Meu mar de sal e ideias
mergulho,banho-me e me afundo
no triste cortejo das terras que me custam tocar
na triste quaresma de instintos e atos
me lambuzo,me expremo e não exprimo
de-me a liberdade da alta maré
qualquer fluxo de qualquer correnteza
lave-me e me leve
estou farta da terra firme
e do ruido dos motores
eu quero é a imaterialidade de suas ondas
tornar-me água
abandonar toda a humanidade terrestre
todo o racionalismo turvo de todas as equações
(eu sei que o mundo acabará
e que o capitalismo ainda irá falir
quero brindar num templo Maia
o fim de todas as civilizações
para por fim surgir outra e mais outra
e pairar no crepusculo das memórias
mas do que importa?)
eu quero a lua cheia e a maré que nunca vem
me arraste e me esqueça
torne-me naufraga do esquecimento
me leve para qualquer terra ilusória
onde de certo eu seria feliz
muito mais feliz
de-me a sua promessa
mande a suas sereias a mim cantar
eu que procurei as Américas e terminei em uma rocha qualquer
cantem porque eu não tenho mastro para me amarrar
cantem que eu não me importo em afundar
no meu doce mar de poesia
eu com amor aceitarei afundar
Oh malditos homens,como ousaram tornar a soberania mistica do mar em mero obstáculo de passagem?