Eu tenho medo de gente

Tem-se muito medo da morte

De aranha, altura, escuro, serpente

Arrepia-se por tubarões e tempestade

Eu? Eu tenho medo de gente

Gente de passado que apodrece no presente

Gente incapaz de curtir felicidade alheia

De aguentar um coração partido

Que os defeitos do mundo todo nomeia

Eu tenho medo de gente rancorosa

Que vê na vingança a justiça terrena

Que pinta para si um mundo cor-de-rosa

Que se recusa a encarar um problema

Tenho medo de gente que mata árvore e bicho

Que se excita em ser terceiro num relacionamento estável

Gente intolerante do que não é prática própria

De semblante cinza e sorriso amigável

Me treme as pernas gente que ama dinheiro

E trabalha apenas por bens materiais

Que manda criança calar a boca

Que não enxerga o sofrimento de seus iguais

Acaba com minha coragem gente pessimista

Que se orgulha de morar em país onde ter arma é legal

Que invade terra alheia por cobiça

Que inveja a grama verde do outro quintal

Tenho medo de gente que nunca tem tempo

Que não lembra da infância como feliz

Que não sente alegria e saudade

Que, na caminhada, só vê tombo e cicatriz

Mas, acima de tudo, tenho medo daqueles

Que relegaram o amor ao desuso

Que abandonam relacionamentos difíceis

Que rejeitam companhia e escolhem o canto recluso

Que vão ler esse poema como clichê e abuso...