ÓCULOS ESCUROS
Não
Eu jamais terei aquele rosto deprimido
Triste
Um ar de enterro
Óculos escuros
Não
Eu olho direto
No olho
Olho no olhar
Olho de fulminar
Eu mostro a alma
Perco a calma
Eu jamais terei aquele olhar fundo de despedida
Nem nas mãos as marcas da ferida
Nem os braços pendidos
Nem renego a vida
De mim eu não desisto
E no velejar dos barquinhos
Coloco gaivotas
No marulho do mar insisto
Quem disse que me afogarei em pranto
Que rasgarei meu manto
Cada fio de mim é coragem
Cada vez que respiro é poética aragem
E sopro versos como se fossem os grãos de areia
Espalhando sol pelo deserto
Eu abraço enluarada
Teço histórias coloridas
Sonho acordada
E danço com a poesia e as sílfides
Junto com as folhas ao vento
Horas caminho breve
Outras caminho lento
E em meu sangue faço o ritmo do tempo
Beijo tudo o que quero
Beijos de cálido desejo
Eu beijo
E mordo e anoiteço
Amanheço em mim
Pernoito em meu pensamento
Faço de mim o que quero
Suavidade ou tormento
Corro se quiser correr
Danço se quiser dançar
E quando a vida se for
Que se vá
Antes tomo taças de vinho
E me dano a versejar
Digo coisa sem coisa
Até o dia raiar
Rasgo a blusa
Arranco o colar
Tomo um cafezinho
E encho de boemia e fumaça o ar
Ando de pés descalços
Quem quiser pode falar
Pois como e durmo na minha casa
Satisfação só à poesia devo dar
Mas de vez em quando a gente se engalfinha
E eu sou dela
E ela é minha