SEM TÍTULO
Sabe um peito em amor afundado
Sem suspirar
Em tudo uma primavera adivinhar
As folhas do outono voando pelas ruas
A beleza da avenida debaixo de chuva
As árvores balançando os verdes braços
Enviando mensagens intraduzíveis
E uma vontade enorme de gritar, de chorar
Sabe um instante de música parado no ar
Sabe a voz da cidade falando ao seu ouvido
Sabe também de avistar no mar
Todos os significados
Sentidos
E também querer voar
Morar entre a lua e as estrelas
E livremente poder narrar
Uma história tão linda
E que se tem de esconder
Guardar
Porque se não o bicho pega
O bicho come
Sabe o que é morar no corpo da poesia
E ela pisa e tripudia
E que depois de ensinar diz
Você não deveria
Sabe o que é ouvir vozes o dia e a noite sem cessar
Não, tenho certeza que não
Sabe o que é um pensamento escravizado
Um espírito no outro colado
E a morada do espírito impedida ser de se aproximar
Pois eu sei
Tenho o corpo como o chão ao sol crestado
E o espírito de lágrimas inundado