“VEM, VAMOS EMBORA”
Cansei da poesia
Esta sem-terra
Que em mim faz moradia
Posseira
Invasora dos meus foros íntimos
Fincou em meu corpo
As estacas de seus barracos
Passou a cerca
Assentou-se vestida toda em farrapos
Paus e pedras nas mãos
A poesia faz serão
Faz de mim acampamento
Manifesta-se a qualquer momento
Pior, me chama de companheira
Camarada e mais outras besteiras
Ela pensa que não noto
Mas sei quanto é matreira
Sobe em palanques, discursa, faz comício
Aponta e denuncia
Põe na cabeça um boné
A sigla do peito grita
Faz uma barulheira maldita
Conclama
Bandeiras apaixonadas agita
Senta, enfim, cansada, na grama da esplanada
E o seu presidente critica
Depois canta
Microfone na mão
Canta uma canção
“Vem, vamos embora,
Que esperar, não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”
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