ELA

Ela em mim se entranhou

Na paixão mais louca que a devora

Na boca que desesperada beija

Do anoitecer

Ao romper da aurora

Ela me desajusta

Comanda minhas ações

Como se fosse eu uma espécie de robô

Usa minhas últimas forças

Se emaranha em meus cabelos

Tece teias

Rasga meu peito e nele se aninha

E faz bater o coração

Feito um sino de capelinha

Tremer o corpo inteiro

Como se o frio da morte

Viesse para ficar

Ela de mim se aproveita

E fustiga meu rosto

Com o vento bravio dos confins da terra

Das lonjuras do mar

Ela me toma e me deita

Me anula

Faz desfeita

Consegue o que deseja

Sai satisfeita

Mas sequer dormindo me deixa

Durante toda a madrugada

É em mim que te espreita

Insaciável e voraz

Eu a enxoto

Ela retorna

Não dá trégua

Alma teimosa, impiedosa, torta

Chega ao meu ouvido e diz

Quero te ver

Morta