CASULO
De volta ao conforto da caverna,
Resguardando toda sangria exposta,
Cicatrizando os talhos na minha carne,
Feitos pelas navalhas afiadas dos infames.
Corri mundo e me mostrei ao mundo,
Derramei versos em pétalas pelas alamedas,
Estive nos becos, guetos, praças e calçadas,
Em tudo atirei pérolas e só os porcos deglutiram.
Deitei e me dei em camas e colchas de cetim,
Despejei prazer nas entranhas de fidalgas damas,
Fiz amor com mundanas nos escombros da periferia,
Sempre regando com poesia todo gozo que permiti.
Em momentos me senti e me vi poeta,
Deslumbrei livros enfeitando vitrines luxuosas,
Sofri olhando poemas jogados nas sarjetas em nojo,
Blasfemei o mundo e os mundamos e arrotei mágoa.
Vim buscar a segurança das minhas paredes nuas,
Rebuscar na solidão a recompensa do meu pensar,
Eu sei dos meus versos e os valores das palavras ditas,
Que ofereci ao mundo sem pretensão nem recompensa,
E só recebi um bumerangue arrebentando minha cara.
Refletirei protegido neste casulo tão meu,
Se acresço demagogia nas entrelinhas dos meus textos,
Se jogo o jogo hipócrita das cartas marcadas pela farsa,
Se ofereço meu sangue aos vampiros da multidão,
Se dôo o coração aos dementes conseqüentes da avareza,
Se apenas conforto os insanos oriundos das paixões sem freios,
Ou se apenas jogo versos aos ventos para serem levados ao infinito.
Mas se tempo urgir e a conclusão me faltar,
Apenas escreverei o que o instinto por si ditar,
E cada poema rebentado em folha branca límpida,
Será amassado e jogado ao espaço em vácuo,
E somente minha memória terá sabido das letras.