Quando a hora da partida soar
Quando eu desencarnar, quero levar comigo o sentimento de paz de ter tentando insistentemente amar acima de meu orgulho. Amar o suficiente para aceitar a todos, ainda que não possa sempre entendê-los.
Bom fosse que levasse também a certeza de ser muito amado. Mas tendo a certeza de ser também pouco compreendido, seria o suficiente, ser, pela maioria, perdoado.
Queria também, mais que ir para um lugar especial, fazer de minha alma um lugar iluminado pela sabedoria. É melhor um ponto iluminado no escuro, a um cego num lugar iluminado.
Mas qualquer pontinho de sabedoria, quando não for possível a sabedoria plena, que continue me fazendo caminhar, querendo aprender sempre, sem medo das descobertas que às vezes mais machucam do que animam, pelo menos a princípio, já seria também bem vindo.
E aos que ficassem, os corações mais queridos, esposa, filhos, gostaria de deixar certo conforto, algo onde pudessem se agarrar. Mas resta o conforto que a dor é necessária. De que a vida dá a cada um segundo seu merecimento. E que a paz de consciência é o maior conforto que se pode ter.
Levarei, sem dúvida nenhuma, todos aqueles momentos de imensa simplicidade, vividos juntos com os amigos, e todos aqueles momentos quando achei que não ia dar mais e percebi, depois de longa tempestade, que o sol ali estava novamente a brilhar.
Os abraços apertados, os beijos carinhosos, os risos sem muita razão, os momentos para o nada que me fazia conversar com Deus. Tudo que pode atestar que esta existência valeu a pena e que ficarão registrados na minha memória.
O mal não foi registrado, não o conheci. Pois tudo que a vida me devolveu foi um caminho mais longo ou mais curto para ser feliz. Os equívocos são um atalho ao contrário, nos levando de volta para o caminho da felicidade.